A oxigenação por membrana extracorpórea já é comum em cirurgias cardíacas e passou a ser uma alternativa para pacientes graves com coronavírus
Por Hassan Farias – NSC Total
Um equipamento que funciona como pulmão artificial está sendo usado para ajudar no tratamento de pacientes graves com coronavírus internados em um hospital de Joinville. A oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO, na sigla em inglês) já era usada em cirurgias cardíacas e passou a ser aplicada também para auxiliar na melhoria do quadro de saúde dos internados com Covid-19.
A tecnologia usada pelo Hospital da Unimed já foi aplicada em sete pacientes desde o início da pandemia. Foram casos mais graves, em que nem os respiradores tradicionais são suficientes no tratamento, e que atendem determinadas condições clínicas. Três deles já saíram da ECMO. Um permanece internado no hospital com melhora no quadro de saúde após sair do aparelho, outro não resistiu à doença e um terceiro já recebeu alta.
Este último caso foi registrado em 24 de março e, diante do estado clínico, foi usado o pulmão artificial. O equipamento foi retirado depois de duas semanas e após mais um tempo de internação, o paciente recebeu alta. Segundo a Unimed, foi um dos primeiros casos do Sul do Brasil e o primeiro de Santa Catarina a se beneficiar dessa modalidade de terapia.
– O que a gente vê é que os pacientes que precisam de ECMO vão para o procedimento com risco de óbito de 80% a 90%. Na ECMO esse risco diminui para 30% a 40%. Então, ganhamos uma alternativa a mais – explica o cirurgião cardiovascular Alisson Toschi.
Aparelho é usado para problemas respiratório desde 2010
O médico conta que o aparelho já era usado em cirurgias cardíacas para desviar a circulação sanguínea do paciente enquanto se realiza o procedimento no coração parado. Nos pacientes de Covid-19, o pulmão não dá conta de oxigenar e lavar o gás carbônico produzido. A ECMO surge como um órgão artificial que ajuda na respiração do paciente, enquanto o seu pulmão fica relaxado e pode se recuperar.
– É um aparelho composto por tubos e cânulas, que são colocadas no paciente. O sangue vai passar pela bomba centrífuga que faz ele circular e outra peça, uma membrana, faz a troca de oxigênio e a limpeza do gás carbônico, como se fosse o pulmão do paciente. Ele vai ficar em ECMO pelos dias necessários até ganhar capacidade de oxigenação – descreve o especialista.
As pessoas com Covid-19 ficam no auxílio do pulmão artificial, em média, por 20 dias. Segundo Toschi, a ECMO começou a ser usada no hospital para pacientes com problemas respiratórios por volta de 2010, em casos de pneumonia e H1N1. No entanto, a demanda não foi tão grande como a exigida durante a pandemia do coronavírus.
O cirurgião cardiovascular também explica que a ECMO, assim como outros procedimentos médicos, apresenta riscos aos pacientes. O mais comum são os sangramentos, já que as pessoas precisam estar anticoaguladas para receberem o auxílio do aparelho. Por isso, a equipe médica faz o monitoramento constante para verificar a ocorrência dos sangramentos. Outro risco é o desenvolvimento de insuficiência renal.
Tecnologia pouco utilizada no SUS
Apesar de já ser usada há alguns anos em hospitais particulares, a oxigenação por membrana extracorpórea ainda não é muito comum no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Toschi, a tecnologia até chegou a ser usada em alguns pacientes durante o surto de H1N1 em Joinville. No entanto, na pandemia do coronavírus ainda não foi usado.
Ele explica que é necessário padronizar o uso deste tipo de terapia para o SUS, com a definição de protocolos para liberação junto ao governo do Estado. Por isso, a ECMO ainda não é uma opção para os pacientes atendidos pela rede pública.
Outro ponto destacado pelo especialista é a qualificação das equipes para trabalhar com a tecnologia. Segundo ele, não basta ter o material sem uma equipe especializada de intensivistas, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais que trabalham junto com o cirurgião cardíaco no tratamento por meio do pulmão artificial.